domingo, 10 de fevereiro de 2013

Metal: A Headbanger's Journey (Sam Dunn, 2005)


Ah, o metal! Aquele gênero musical visto por muitos como apenas um estilo barulhento, escutado por jovens alienados. Um gênero conhecido pelo comportamento fanático de seus adeptos, que enlouquece milhões de pessoas pelo mundo afora...
O Heavy Metal é um gênero que foi marginalizado por muito tempo, censurado, condenado, uma música ouvida por uma minoria. Muitos não concordam, mas me arrisco a dizer que passamos desse tempo, a minha geração nunca saberá realmente o que é ser discriminado pela sociedade por causa de um estilo musical tão mal vito, o que é chocar, o que é ir contra os padrões. O rock/metal passou a ser um estilo respeitado, meio que popularizou. Mas apesar de tudo, a grande “comunidade” do metal ainda é uma minoria, ainda apresenta um comportamento distinto, e embora a situação esteja muito longe do choque causado em seus primórdios, ainda há uma visão estereotipada mantida viva por grande parte da mídia e uma gama de mitos ao redor. Foi pensando nisso que o canadense Sam Dunn dirigiu o documentário “Metal: A Headbanger's Journey”.
Sam Dunn é um apaixonado pelo metal desde os 12 anos, decidiu estudar antropologia justamente pela intenção de estudar o comportamento social.  Então aos 30 anos, após estudar diversas culturas, decidiu ir para aquela por qual é apaixonado desde a adolescência: O Heavy Metal, em suas variadas vertentes. 

Sam embarca em uma jornada com a intenção de desvendar o que faz com que essa vertente musical seja capaz de enlouquecer e fascinar tantas pessoas, bem como influenciar tanto em seu comportamento.
Sam viaja pelos Estados Unidos e por países europeus, passa pelo festival “Wacken Open Air”, na Alemanha, com a intenção de buscar as raízes, entender o comportamento dos headbangers. Sam consegue fazer um documentário fantástico sem perder tempo com baboseiras do tipo falar sobre as bandas melhores ou expor seus gostos e opiniões, mostra depoimentos de sociólogos, produtores, fãs e nomes importantes da música como Lemmy, Alice Cooper, Rob Zombie, Tony Iommi, Ronnie James Dio, Dee Snider. Os depoimentos de Dee Snider são alguns dos pontos altos do filme pois ele fala sobre a censura que teve com sua música, exatamente no tempo em que começaram os “ataques”, quando saiu uma lista chamada “Os 15 obscenos” em que o Twisted Sister apareceu junto a outras bandas como Venom e Judas Priest.  Dee snider foi meio que o pesadelo da sociedade conservadora da época, ele conta da experiência no tribunal quando foi defender a sua música e seu estilo de vida. 

O documentário aborda a questão da sexualidade, do satanismo no metal, em que posso falar das partes em que o mestre Dio fala sobre isso, mostrando o quanto a religião é um assunto que permeia o gênero.  Ele nos conta a história do famoso chifrinho (já citado como saudação ao demônio!). Fala realmente sobre toda essa questão do obscuro, do diabólico, e como isso foi uma forma de “ir contra a corrente”. Nessa parte até descobri que eu não fui a única que fiquei com “medo” quando escutei o Venom  pela primeira vez.

Outro ponto que achei muito interessante foi a abordagem de toda essa questão sexual no rock/metal.  Estavam lá caras tocando para um público 95% masculino, mas com calças apertadíssimas, roupas bem reveladoras, toda uma atitude sensual de certa parte das bandas, mas estavam se sentindo os másculos, os fortes, os viris, e eram vistos assim pelo público. Rob Halford tinha uma aparência a lá Village People,  mas não havia um ser que pensasse que ele era gay.
O filme ainda traça uma espécie de árvore genealógica que vai se montando durante o decorrer do mesmo. E também visita as bandas de Black Metal norueguesas (talvez a única parte realmente satânica da coisa).
http://www.templodorockbutia.net/ander/imagens/coluna3/3.jpgO documentário é indispensável para qualquer fã do gênero ( eu pessoalmente me deleito quando assisto esses documentários, é tão legal, bonito, ver tudo isso) ou mesmo para uma pessoa que queira conhecer um pouco mais sobre o assunto. Logicamente o filme deixou algumas coisas a desejar, deixou bandas importantes de lado, falou do Kiss rapidamente, temos até duas aparições medonhas dos caras do Slipknot (que diga-se de passagem não acrescentou em nada), mas bandas como Metallica, Megadeth, Ac/Dc só aparecem em citações, não sei se por falta de interesse dos integrantes em participar, ou apenas realmente falta de tempo, afinal, é um documentário de 96 min. Apesar disso, foi feito um trabalho ótimo, conseguindo abordar bem o Heavy Metal e suas vertentes.

E mais, tem como não amar um filme que é concluído com tais palavras?

“E aqui estamos, 35 anos depois que o Black Sabbath tocou pela primeira vez a nota do Diabo, e a cultura do metal segue prosperando. Uma nova geração de fans surgiu, e a velha guarda segue resistindo. Mas empreendi esta viagem para responder uma pergunta: Por que o Heavy Metal têm sido constantemente estereotipado,  repelido e condenado? E o que tenho claro, é que o metal confronta o que preferimos ignorar, celebra o que muitas vezes renegamos, e é indulgente com aquilo que mais tememos. E é por isso que o metal sempre será uma cultura de marginalizados.
(...)
Desde que tinha 12 anos, tive que defender meu amor pelo heavy metal contra quem o classificasse de forma de música “barata”. Minha resposta agora é que ou o sente ou não. Se o metal não te provoca essa envolvente sensação de poder, e não faz com que se arrepiem os cabelos da nuca, talvez nunca o compreenda. E sabe o que mais? Tá tudo ok. Porque, a julgar pelos 40.000 metalheads que me rodeiam, estamos bastante bem sem você.”



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