domingo, 27 de julho de 2014

Sr. Ninguém, Efeito Borboleta e a vida



Na infância, pensava muito sobre como seria minha vida, ás vezes passava horas sem fazer nada, só vegetando e imaginando como seria meu futuro, imaginando as várias possibilidades de acontecimentos que poderiam ocorrer com o passar do tempo. Ás vezes quando lembro, fico achando surreal como a cada semana me imaginava com uma profissão diferente, em lugares diferentes, e ia imaginando cada acontecimento cinematográfico, com pessoas e lugares que só existiam na minha cabeça.

Mas o futuro é só uma fantasia.

Hoje olhando para a minha vida, muitas vezes me perco imaginando como ela poderia ter sido diferente (pra melhor ou pra pior) se certas coisas tivessem sido diferentes. Se tivesse feito o ensino médio ou o fundamental em outra escola, se tivesse ido a certo lugar em determinado dia, se tivesse nascido em outro país, ou simplesmente se certos acasos da vida não tivessem ocorrido.
Essa parte dos acasos é a que mais me perturba. Tenho uma certa agonia quando penso como estamos suscetíveis aos acasos e aos acontecimentos da vida que você não planeja  ou que simplesmente não dependem de você. Somos verdadeiras cobaias do universo. Na sua infância poderia ter ocorrido uma fatalidade e você ter ficado órfão de pai e mãe, ter ido morar com um parente, mudar de cidade e sua vida ser completamente diferente do que é hoje. Pode simplesmente estar no lugar errado na hora errada e ser vitima de uma morte inesperada, talvez a forma mais cruel de aparecimento da morte.

A partir daqui o texto está repleto de SPOILERS! Então se você não assistiu os filmes citados no título aconselho que não prossiga, a menos que queira estragar a experiencia. E esses filmes eu indico assisti-los sem muitas ideias iniciais nem pesquisas.

No filme Sr. Ninguém um homem chamado Nemo acorda com 118 anos em um futuro onde os seres humanos são imortais, sendo ele, o último mortal da terra. Aos poucos Nemo vai se lembrando de seu passado. Tendo se tornado uma sensação por ser o último mortal num mundo de mortais, tem seus últimos dias acompanhados. O filme apresenta uma seqüência de lembranças da vida de Nemo, na verdade, lembranças de vidas diferentes, que aconteceriam de acordo com certas escolhas e acontecimentos. Vidas que se desenvolveriam a partir da impossível escolha entre qual dos pais o Nemo garoto quis seguir depois da separação deles. Momentos marcantes da vida, como a primeira paixão e como cada escolha o levou a caminhos diferentes pelo resto da vida. A moça que seria o grande amor da vida, seria outra completamente diferente em uma vida paralela, assim como ele. Mas todas as vidas com coisas em comum (ao meu ver),  com boas lembranças da parte dele, e principalmente, frustrações. Frustrações simplesmente resumidas ao “E se eu tivesse feito isso?” ou ao “e se eu não tivesse feito isso?”.

Por isso Nemo não relata apenas uma vida, talvez tivesse ficado tão perdido com as diferentes possibilidades que a vida apresenta que tenha caído numa ilusão e não tenha uma identidade. Por isso mesmo se denominou como “Ninguém”, não tinha uma história certa.

Essa é só a minha visão geral do filme, a reflexão principal que tive, porque claro que o filme não é só essa mastigada que eu descrevo. O filme trata a questão do tempo de forma fantástica. Lembrando em muito “Efeito Borboleta”, mas sendo este mais linear e apresentando uma  visão mais devastadora sobre nossas escolhas e os rumos que a vida pode tomar.  “Sr. Ninguém” não tem o tom trágico de “Efeito Borboleta”.  É um ótimo filme de ficção cientifica, repleto de cenas de encher os olhos (que fazem com que eu defina o filme como “lindo”), uma boa dose daquele velho romance sonhador do cinema e o mergulho nas ilusões de Nemo, o Sr.Ninguém.

Em Efeito Borboleta, o protagonista Evan lutava para esquecer coisas de seu passado e tinha o poder retornar ao momento do acontecimento. Um poder incrível que fazia com que ele pudesse mudar aquele pequeno acontecimento que tanto lamentava. Só que a alteração em um caso isolado causava mudanças em toda sua vida. Evan voltava ao futuro e percebia tudo mudado, e com novos problemas (graves problemas). Evan achando que controlava a situação terminava sendo sempre vítima da Teoria do Caos, sendo mais uma cobaia do universo. Somos todos cobaias do universo.


Os Evans do tempo.
Quem viu o filme (Se você chegou até aqui sem ter visto é porque sentiu muita vontade de estragar a experiência ) sabe que no final Evan termina optando pela decisão que talvez não fosse trazer tantas seqüências de acontecimentos trágicos.  Mas deixa a impressão que ainda assim ele fica imaginando como teria sido se não tivesse feito aquilo, ou quem sabe que não se conformou e ainda tentou mudar. Nosso Sr. Ninguém não tinha esse poder, apenas as lembranças ou ilusões das suas diferentes vidas, e quem sabe, a satisfação pela vida que viveu ou acha que viveu.

Não há como não refletir sobre esses filmes concluindo com velhos clichês como “Faça sua vida valer a pena”.  Evan passava por presentes frustrados que talvez não o deixasse tão desesperado porque ele tinha uma invejável forma de viajar no tempo, achava que tinha o controle.  Em Sr. Ninguém ás vezes dava a entender que no momento da escolha, Nemo conseguia ver como seu futuro seria.

Mas o futuro é só uma fantasia, uma ilusão perdida no tempo.

O passado é só uma lembrança distante. A lembrança perdida dos momentos e de sensações que talvez nunca mais possam ser sentidas e de atitudes que nunca poderão ser mudadas.

Só o que existe é o presente.



No momento da morte Nemo diz que é o melhor dia da sua vida. O passado já não existe, nem o futuro, que para ele não é mais nem uma ilusão. O último homem a poder lamentar o fim da vida morre dizendo ser o dia mais feliz. Por quê? Será que por ter atingido o conhecimento do tão buscado “sentido da vida”? Por estar passando por um momento de iluminação? Por estar deixando uma humanidade que não é capaz nem mais de sentir “coisas da carne”? Ou simplesmente por morrer com a satisfação das suas diversas vidas?

“Você diz que precisamos fazer escolhas... Cada uma dessas vidas é correta. Cada caminho é o correto e tudo poderia ter sido outra coisa... Não existe vida após a morte. Nem eu existo. Só vivemos na imaginação de um menino de 9 anos. Nós fantasiamos um menino de 9 anos, com uma escolha impossível."



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