quarta-feira, 3 de abril de 2013

Feminismo hipócrita


Sou uma pessoa interessada nas causas feministas. Entretanto, nunca fiz questão de ficar dizendo isso por aí. Por quê? Por que simplesmente não baseio minha identidade em rótulos ou títulos específicos. Não tenho "orgulho de ser feminista", como muitas mulheres afirmam, tenho orgulho de ser quem eu sou, de pensar como penso. Uma vez que um amigo veio perguntar minha opinião sobre a Marcha das Vadias falando “Jéssica, você que é meio feminista...”, até achei estranho, porque nunca me auto-intitulei como tal.

Quando eu era criança, achava estranho o que falavam sobre o feminismo, pelo que eu ouvia eram apenas mulheres revoltadas demais, contra o casamento, contra qualquer tipo de vaidade, que não se arrumavam, tudo o que eu ouvia as pessoas falarem e pelo que eu via na TV.  Mas sempre questionei as diferenças sociais entre homens e mulheres, os estereótipos de gênero, e tantas coisas que achava injusto. Depois que comecei a conhecer certas coisas e ver um pouquinho mais sobre o feminismo, “descobri” que as feministas não eram o inimigo público número um da sociedade.

Eu não achava legal a ideia desse movimento ter um nome, afinal, o pensamento de igualdade pregado pelas feministas deveria ser um pensamento natural de todo ser humano não? Não vou mentir, pesquisava muito sobre as lutas das mulheres (e sentia orgulho), mas não identificava essas lutas como lutas de mulheres feministas, mas lutas de mulheres corajosas. Hoje em dia, acho viável uma denominação, mas acredito que a mulher, independente de ser feminista ou não, quer ter os mesmos direitos que os homens e não sofrer com o machismo.

Hoje, o feminismo que estava sendo considerado morto por muitas pessoas ganhou mais popularidade, graças ao florescimento de protestos, e principalmente à popularização da internet.  Há muitos blogs, sites e grupos feministas espalhados pela web, disseminando e discutindo suas idéias. Idéias de um movimento que não é mais o mesmo que era no início, expandiu seus discursos assumindo várias vertentes e se tornando um movimento plural.  Mas o negócio está desandando. Sinceramente, muitas vezes me dá dores de cabeça ler comentários em certos grupos feministas. Tanto que agora  visito muito pouco os blogs e tampouco participo de grupos. Acho um tanto quanto incoerente um grupo que prega o respeito, a igualdade e o repúdio ao preconceito se comportar  de forma tão hipócrita. Um grande problema de pessoas em geral é não entender que se pode discordar até mesmo de argumentos usados para defender o que pensamos. Como vejo isso em grupos feministas! Soando tantas vezes até ditatorial. Eu mesma já tive alguns comentários bloqueados (e olhe que posso contar os poucos comentários que já fiz em páginas pela web!) e constantemente vejo muito desrespeito entre os mesmos. Além da disputa que agora está existindo pra definir quem é mais feminista (alguém pode me dizer onde consigo  a carteirinha?). Na boa, isso me lembra aqueles menininhos “metalêrus from hell" de 13 anos que passam o dia inteiro de mimimi na internet falando sobre o "santíssimo" rock, xingando o funk e nomeando outros de poser a torto e a direito. 
A discussão sobre liberdade sexual e direito ao próprio corpo está se tornando um discurso infindável de bordões prontos e clichês. Tenho a impressão que o famoso “We Can do It” deu lugar ao “A porra da buceta é minha e faço o que quiser”. Perdi a conta das vezes que li frases parecidas no mesmo dia. A liberdade sexual da mulher é um dos pontos mais discutidos no feminismo, digno! Cada mulher deve  fazer o que quiser com seu corpo, usar a roupa que quiser, e se relacionar  com quem quiser, e sei que não precisa fazer nada de “errado” pra ser chamada de puta, vadia (ponha aqui qualquer outro xingamento do tipo). Mas já vi (e vejo) muito na internet  mulheres enchendo o peito pra falar que tem relacionamentos casuais  com muitos homens, porque é livre, usa a roupa que quiser porque é dona do corpo, e seguem repetindo os mesmos bordões. E vejo mulheres se comportando com desprezo em relação a outras que não dão pulos de alegria sobre tais discursos. Isso não me soa como protesto nem rompimento dos padrões, soa apenas um egocentrismo pífio e idiota..

Vi bem  isso quando li ontem uma publicação no site da revista Superinteressante, falando sobre o "funk feminista". Me lembrando da discussão sobre  Valesca Popozuda como feminista e modelo de liberdade feminina, defendida por muitas feministas.  O que ela,  as outras popozudas da gaiola e outras cantoras e dançarinas do funk cantam ou dançam sinceramente não me importa, muito menos se ela é feminista ou não, porque não vai influir em nada na minha vida. Mas me soa bem hipócrita se referir a uma mulher que se diz ( e dá a entender que pode ser chamada) puta, piranha e cachorra como modelo de mulher bem resolvida e livre. Até por que,  a mulher que canta  “Eu dô pra quem quiser  que a porra da buceta  é minha” é a mesma que canta que “mulher de verdade quer um otário pra bancar” e que também canta xingamentos direcionados  á outras mulheres... 
E sinceramente, não vejo nada de libertário nisso.


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