Esses
dias tenho andado extremamente reflexiva...
Não sei
se é por que o fim do ano (ou fim do mundo) está em cima, e quer queira
ou não fins de anos sempre são períodos de reflexão para mim, ou se é por que
estou perto de entrar no mundo dos adultos (período pré dezoito anos é
depressivo) e o mundo real está a minha espera (na verdade já fui apresentada
ao mundo real e não foi nada legal). Só sei que estou pensando seriamente em me
isolar no topo de uma montanha na companhia apenas de uma águia e uma serpente
e sair de lá renovada.
A anfitriã do blog havia feito um pequeno post falando sobre a liberdade, que é uma palavra que desde criança me causa "inquietação".
Liberdade
é uma questão interessante, os mais famosos filósofos já discutiam
sobre ela, cada qual com a sua definição, não quero discutir sobre o
pensamento deles nem entrar em questões conceituais mas sim levantar
essa questão que Giuliane havia aberto naquele outro post: "Somos
realmente livres de nós e do nosso Ego?".
Há umas
duas semanas estava conversando com uma amiga, bem no horário prestes a entrar
em sala de aula e ela falou: “Se eu fosse dona de mim, sairia agora e iria até
a praia, me deitaria embaixo de um coqueiro e leria um livro.”
Engraçado
que isso é o que eu sempre penso, sair bem nesse horário, e ir a pé até a praia
( não moro nada perto da praia, nem a escola em que estudo fica perto, é muito
longe, mas se você estiver com muita disposição dá pra ir a pé), me deitar e
ler um livro, ou talvez nem precisasse do livro, só o fato de deitar e ficar lá
como se o mundo não existisse, como se não estivesse perdendo aula, como se não
fosse ser reprovada por isso já bastava. Ela prosseguiu e falou: “Mas eu não
sou dona de mim, sou comprada pelo capitalismo.”.
Vou me permitir usar palavras do post de Giuliane...
Somos mesmo livres ou somos prisioneiros de nós mesmos?
Somos mesmo livres ou somos enjaulados pelos padrões morais da sociedade?
Somos realmente livres de nós e do nosso ego?
Os
momentos em que mais penso sobre isso é quando pego ônibus entre seis e oito
horas da manhã com um congestionamento daqueles, fora ser transportada num
carregamento de carne humana (me sinto um boi sendo transportado em caminhão
nesses ônibus lotados). Penso naquelas pessoas que saem de madrugada de lugares
muito distantes para poder chegar ao local da luta diária, onde muitas vezes
vai trabalhar duramente para receber muito pouco no final, chegando em casa
muito tarde apenas para comer e dormir para no dia seguinte começar tudo outra
vez. Aí vou para um lado mais almejado por todos: O conforto, trabalhar em uma
coisa muito boa e ganhar bem sem ser "escravo", e quem sabe durante a
semana ter tempo de pelo menos assistir a novela das sete e das oito
quando chegar em casa.
Enquanto muitos
de nós ainda não estamos nessa luta, temos que nos esforçar para futuramente
ter um conforto, "ser alguém" na vida, e chegar à noite podendo até
dar umas voltas por aí, porque afinal, se conformar em assistir a novela das
oito não dá né?
Não vamos
à escola para adquirir cultura, ou não somente para adquirir cultura. Vamos
porque nos é exigido, para cumprir a formação, aquela formação que irá nos
habilitar a fazer provas no futuro e dar início aos estudos que irão nos formar
profissionais bem sucedidos ou não, que irá nos dar o dinheiro para viver, e
não somente sobreviver.
Não quero dar uma de revoltada contra o sistema, contra a
escola, até porque faço parte desse sistema, só fico pensando o quanto nossas
vidas muitas vezes se tornam chatas ou até sem sentido, não poderia realmente
usar a expressão "sem sentido" porque pra conseguir o que queremos
temos que abdicar de muitas coisas, e se hoje sofremos sabendo que é por
motivos justos vai valer a pena. Mas fico pensando no geral, acordar super cedo
pra ser carregado feito um animal num ônibus, se estressando no trânsito que
está cada vez mais caótico, perder três horas diárias apenas em transporte não
é qualidade vida.
Sempre penso no primeiro episódio da primeira
temporada (de 2005) de Doctor Who, quando depois de tudo o doutor convida Rose
para viajar com ele a bordo da TARDIS, ela pergunta se é sempre tão perigoso,
ele diz que sim, mas que ela iria passar por muitas aventuras, ou poderia
continuar levando sua vida de sempre, estudando, trabalhando e dormindo.
Naquele momento ela pensa justamente nas
responsabilidades, nos estudos, no namorado, e decide ficar, é aí que ele volta
e diz que a máquina também viaja no tempo. Essa cena pra mim é simplesmente
fantástica, ela abandona tudo, deixa o namorado de lado e sai correndo em
direção ao doutor e à nave, mesmo sabendo das exigências que ela tem no mundo
real.
Bem, mas a vida real é bem diferente da ficção e temos que nos acostumar com isso, mas fica a questão: Será possível ser livre no mundo de hoje?
Um comentário:
Isso me lembra aquela cena de Matrix, o primeiro, do cara e do bife, aquele dialogo é massa, mas ou menos assim: se eu estou comendo esse bife mal passado, e meu cérebro interpreta assim que mal há nisso. É tipo assim, sabemos da verdade, mas preferimos (por conveniência talvez) nos iludir com a mentira.
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