domingo, 7 de julho de 2013

A falta das Videolocadoras



Pequeno texto com algumas reflexões...


Há muitas coisas bem comuns em vários bairros que você vá: Salões de beleza, mercadinhos, padarias, academias. Há pouco tempo uma coisa também bem comum eram as famosas videolocadoras.

Não é segredo para ninguém que elas estão se tornando quase artefatos históricos em cidades. O que era coisa de quase uma em cada bairro, se tornou coisa rara. Dependendo do tamanho da cidade, há pouquíssimas remanescentes.
Também não é segredo o motivo da morte rápida de quase todas elas. Com o avanço da pirataria, houve a disposição da grande massa, uma enxurrada de filmes a preço de banana. Mais barato e acessível (redundância?). Fazendo uma concorrência desleal ao mercado de filmes. Trazendo lançamentos a preços dez vezes menores do que o vendido em lojas. O negócio ficou ainda mais feio com a popularização definitiva da internet a partir dos anos 2000.  Agora, as pessoas têm, além de serviços como o Netflix (que lhe disponibiliza através de assinatura, um acervo ilimitado de filmes), um verdadeiro mundo de filmes de graça, à apenas “dois cliques”. Uma derrubada feia às videolocadoras, que não tinham como competir quando um fator tão crucial estava em jogo: dinheiro. Até porque, na internet se encontra o que nem em todas as locadoras era possível: Filmes de 50, 80 anos atrás, aquelas produções independentes mais obscuras (no bom sentido) que você lia sobre em alguma revista, mas parecia impossível de encontrar.
Toda essa disponibilidade foi a desgraça das videolocadoras, mas um prato cheio para muitas pessoas, principalmente para as “não tão ricas”. E hoje, elas ainda existem, assim como existem seus frequentadores, mas não em quantidade tão grande como antes.
É aí que começa a parte triste. 
Alugar um filme era quase um ritual. Não só para os que estavam nas locadoras todo final de semana, mas também para os que não alugavam com tanta freqüência, que geralmente fazia sessões com amigos. Era quase um ponto de encontro, onde se escolhia com amigos os filmes da sessão que ia acontecer logo. O hábito de baixar filmes se tornou uma coisa mais solitária. Faz o download, põe no Pen Drive e assiste. Mas mesmo que você faça o download e assista com amigos, não se compara ao ritual da videolocadora.
Digamos que não desfrutei muito. Vi a morte delas (que ainda não teve fim) começar no inicio da adolescência. Quando vi a primeira locadora da região ( bairros vizinhos) ser fechada, tive um susto. E quase chorei quando A locadora da minha infância foi fechada. Essa era especial. Era pequena, mas tinha o maior acervo de filmes da região. Filmes antigos, clássicos obscuros do cinema trash (que na época eu nem sabia o que era cinema trash), séries das quais eu nunca tinha ouvido falar. Essa era uma espécie de mundo paralelo (exagero), eu me perdia nela e tinha esperanças de ficar amiga de quem trabalhasse lá na triste ilusão que ia conseguir pegar filmes de graça. Foi meu sonho de infância, enquanto não me formasse, trabalhar em uma videolocadora, assim poderia assistir todos os filmes do mundo. 
Infelizmente eu não era uma cliente assídua, alugava filmes pouquíssimas vezes (nem preciso dizer o motivo), mas fazia visitas com muita freqüência. Acho que os atendentes, depois de um tempo começaram até a estranhar, aquela menina que passava horas olhando os filmes e quase nunca locava. Ou talvez por eu ser criança, nem se importavam. Foi triste ver aquela locadora tão rica, tão cheia de raridades (e com tanta história na minha vida hehe), anunciar seu fechamento com as vendas dos filmes a preços tão baixos. Vi as locadoras de onde morava e tinha morado, serem fechadas uma a uma, poucas sobreviveram.


Hoje se faz downloads de filmes em Full HD, filmes raros e desconhecidos, séries e etc. Você pode passar horas pesquisando na internet, entrar em sites que tem acervos ótimos e que parecem infindáveis. Há programas que reproduzem os filmes com menus, tudo idêntico ao que vem no vídeo. Tudo isso quase de graça, mas que não se compara á experiência de “caçar” os filmes nas prateleiras das locadoras, levar pra casa e até mesmo conversar sobre cinema com os atendentes. Assim como assistir um filme em casa, deitado, e com um banquete ao redor, nunca vai se comparar a ver no cinema. Todo mundo sabe disso, mas talvez, nem todos tenham percebido e sentido a falta que as videolocadoras fazem, e o que isso representa. Mas o que isso representa fica pra outro post.


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