Mostrando postagens com marcador Cinema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cinema. Mostrar todas as postagens

domingo, 27 de julho de 2014

Sr. Ninguém, Efeito Borboleta e a vida



Na infância, pensava muito sobre como seria minha vida, ás vezes passava horas sem fazer nada, só vegetando e imaginando como seria meu futuro, imaginando as várias possibilidades de acontecimentos que poderiam ocorrer com o passar do tempo. Ás vezes quando lembro, fico achando surreal como a cada semana me imaginava com uma profissão diferente, em lugares diferentes, e ia imaginando cada acontecimento cinematográfico, com pessoas e lugares que só existiam na minha cabeça.

Mas o futuro é só uma fantasia.

Hoje olhando para a minha vida, muitas vezes me perco imaginando como ela poderia ter sido diferente (pra melhor ou pra pior) se certas coisas tivessem sido diferentes. Se tivesse feito o ensino médio ou o fundamental em outra escola, se tivesse ido a certo lugar em determinado dia, se tivesse nascido em outro país, ou simplesmente se certos acasos da vida não tivessem ocorrido.
Essa parte dos acasos é a que mais me perturba. Tenho uma certa agonia quando penso como estamos suscetíveis aos acasos e aos acontecimentos da vida que você não planeja  ou que simplesmente não dependem de você. Somos verdadeiras cobaias do universo. Na sua infância poderia ter ocorrido uma fatalidade e você ter ficado órfão de pai e mãe, ter ido morar com um parente, mudar de cidade e sua vida ser completamente diferente do que é hoje. Pode simplesmente estar no lugar errado na hora errada e ser vitima de uma morte inesperada, talvez a forma mais cruel de aparecimento da morte.

A partir daqui o texto está repleto de SPOILERS! Então se você não assistiu os filmes citados no título aconselho que não prossiga, a menos que queira estragar a experiencia. E esses filmes eu indico assisti-los sem muitas ideias iniciais nem pesquisas.

No filme Sr. Ninguém um homem chamado Nemo acorda com 118 anos em um futuro onde os seres humanos são imortais, sendo ele, o último mortal da terra. Aos poucos Nemo vai se lembrando de seu passado. Tendo se tornado uma sensação por ser o último mortal num mundo de mortais, tem seus últimos dias acompanhados. O filme apresenta uma seqüência de lembranças da vida de Nemo, na verdade, lembranças de vidas diferentes, que aconteceriam de acordo com certas escolhas e acontecimentos. Vidas que se desenvolveriam a partir da impossível escolha entre qual dos pais o Nemo garoto quis seguir depois da separação deles. Momentos marcantes da vida, como a primeira paixão e como cada escolha o levou a caminhos diferentes pelo resto da vida. A moça que seria o grande amor da vida, seria outra completamente diferente em uma vida paralela, assim como ele. Mas todas as vidas com coisas em comum (ao meu ver),  com boas lembranças da parte dele, e principalmente, frustrações. Frustrações simplesmente resumidas ao “E se eu tivesse feito isso?” ou ao “e se eu não tivesse feito isso?”.

Por isso Nemo não relata apenas uma vida, talvez tivesse ficado tão perdido com as diferentes possibilidades que a vida apresenta que tenha caído numa ilusão e não tenha uma identidade. Por isso mesmo se denominou como “Ninguém”, não tinha uma história certa.

Essa é só a minha visão geral do filme, a reflexão principal que tive, porque claro que o filme não é só essa mastigada que eu descrevo. O filme trata a questão do tempo de forma fantástica. Lembrando em muito “Efeito Borboleta”, mas sendo este mais linear e apresentando uma  visão mais devastadora sobre nossas escolhas e os rumos que a vida pode tomar.  “Sr. Ninguém” não tem o tom trágico de “Efeito Borboleta”.  É um ótimo filme de ficção cientifica, repleto de cenas de encher os olhos (que fazem com que eu defina o filme como “lindo”), uma boa dose daquele velho romance sonhador do cinema e o mergulho nas ilusões de Nemo, o Sr.Ninguém.

Em Efeito Borboleta, o protagonista Evan lutava para esquecer coisas de seu passado e tinha o poder retornar ao momento do acontecimento. Um poder incrível que fazia com que ele pudesse mudar aquele pequeno acontecimento que tanto lamentava. Só que a alteração em um caso isolado causava mudanças em toda sua vida. Evan voltava ao futuro e percebia tudo mudado, e com novos problemas (graves problemas). Evan achando que controlava a situação terminava sendo sempre vítima da Teoria do Caos, sendo mais uma cobaia do universo. Somos todos cobaias do universo.


Os Evans do tempo.
Quem viu o filme (Se você chegou até aqui sem ter visto é porque sentiu muita vontade de estragar a experiência ) sabe que no final Evan termina optando pela decisão que talvez não fosse trazer tantas seqüências de acontecimentos trágicos.  Mas deixa a impressão que ainda assim ele fica imaginando como teria sido se não tivesse feito aquilo, ou quem sabe que não se conformou e ainda tentou mudar. Nosso Sr. Ninguém não tinha esse poder, apenas as lembranças ou ilusões das suas diferentes vidas, e quem sabe, a satisfação pela vida que viveu ou acha que viveu.

Não há como não refletir sobre esses filmes concluindo com velhos clichês como “Faça sua vida valer a pena”.  Evan passava por presentes frustrados que talvez não o deixasse tão desesperado porque ele tinha uma invejável forma de viajar no tempo, achava que tinha o controle.  Em Sr. Ninguém ás vezes dava a entender que no momento da escolha, Nemo conseguia ver como seu futuro seria.

Mas o futuro é só uma fantasia, uma ilusão perdida no tempo.

O passado é só uma lembrança distante. A lembrança perdida dos momentos e de sensações que talvez nunca mais possam ser sentidas e de atitudes que nunca poderão ser mudadas.

Só o que existe é o presente.



No momento da morte Nemo diz que é o melhor dia da sua vida. O passado já não existe, nem o futuro, que para ele não é mais nem uma ilusão. O último homem a poder lamentar o fim da vida morre dizendo ser o dia mais feliz. Por quê? Será que por ter atingido o conhecimento do tão buscado “sentido da vida”? Por estar passando por um momento de iluminação? Por estar deixando uma humanidade que não é capaz nem mais de sentir “coisas da carne”? Ou simplesmente por morrer com a satisfação das suas diversas vidas?

“Você diz que precisamos fazer escolhas... Cada uma dessas vidas é correta. Cada caminho é o correto e tudo poderia ter sido outra coisa... Não existe vida após a morte. Nem eu existo. Só vivemos na imaginação de um menino de 9 anos. Nós fantasiamos um menino de 9 anos, com uma escolha impossível."



terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um assunto polêmico e dois filmes brilhantes

A única certeza dessa vida é a morte. Essa é uma frase clichê que todos escutamos desde crianças.
A morte é uma coisa que desde o “entendimento por gente” de cada um, sabemos da existência. Antes mesmo de começar nossas vidas sabemos que um dia ela terá um fim. Ela, que sendo a única certeza, ou talvez o segredo dessa vida, como fala Raul Seixas na bela música “Canto para Minha Morte”, talvez a coisa mais falada e mais presenciada (todos os dias, em jornais, em noticias de próximos ou não tão próximos mortos, nas artes) pelas pessoas, é a certeza que todos temem. Sim, todos. Inclusive (ou principalmente) os que falam em alto e bom som que não temem a morte. Até esses sentem um frio na barriga de medo se passarem pelo momento de ver uma arma apontada para a cabeça. O temor em que vivemos, de andar nas ruas muito tarde, com medo dos “vampiros da noite”, é apenas o reflexo do medo de perder a própria existência, todos sabem disso.

Mas há aqueles que querem dar um fim á sua vida. Devido a problemas de saúde (em outros casos, por outros fatores, psicológicos), pessoas essas que acham que não tem mais uma vida.  Pessoas essas que muitas vezes não tem condições dar um fim á própria vida, precisando da ajuda de outros para isso. Ninguém é punido por cometer suicídio, mas quem acaba com a vida de outra sim, aí está uma das maiores barreiras que ajudam na polêmica dos suicídios assistidos.

A eutanásia está entre os assuntos mais polêmicos da humanidade. Que nem é preciso discutir o porquê. A morte, que todos temem e esperam que chegue o mais tardar possível, sendo a vontade (e salvação) de outras pessoas. De um lado há uma lei que distingue a prática em diferentes conceitos (que não vou desenvolver porque não é o foco da postagem) e condena o “assassinato”, e de outro (ou do mesmo), uma igreja que acusa e proíbe. O último sendo o provável motivo de tanta polêmica, afinal, o que mais fora uma religião seria formadora de tantos empecilhos e discussões morais e filosóficas para um assunto como este?


No cinema, dois grandes atores interpretaram dois homens que ficaram conhecidos e lutaram na justiça pelo direito da morte por escolha.


Mar Adentro 


Mar Adentro foi um filme que assisti sem muitas idéias iniciais,  apenas com boas expectativas pelos comentários. O resultado foi um dos filmes mais belos e tocantes que já vi.
O filme Conta um pouco da história de Ramón Sampedro (interpretado fantasticamente por Javier Bardem), um homem tetraplégico que enfrentou a sociedade, os familiares e a justiça na luta para ter o direito de morrer dignamente.

Mar Adentro é um filme brilhante por vários motivos. Foge do clichê, tenta mostrar realmente os próprios sentimentos de Ramón Sampedro. um filme que deve surpreender quem assiste já com idéias iniciais (que aconselho não pesquisar muito se ainda não viu).  “Mar” se mostra um verdadeiro filme artístico, sendo indicado a vários prêmios e vencendo alguns, inclusive o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Tem uma fotografia belíssima e ótimas interpretações, principalmente a tocante e realmente bonita interpretação de Javier Bardem, que se mostrou definitivamente em uma de suas melhores atuações.


Você não Conhece Jack


Provavelmente muitos dos que leram não tinham ouvido falar da personalidade do filme acima. Mas esse aqui provavelmente você conhece.
“Você não Conhece Jack” mostra um pouco da trajetória de Jack Kevorkian, o mais famoso defensor e praticante da eutanásia. Kevorkian ficou muito famoso pela prática e dedicação aos suicídios assistidos, construindo até mesmo a “máquina do suicídio”, ajudando cerca de 130 pessoas a morrer. Tendo problemas com a justiça, passando oito anos preso. Um homem que se tornou muito polêmico, não só pelo que defendia e praticava, mas pelas histórias acerca da situação de saúde de seus pacientes e por sua pessoa em si.
O filme tenta passar isso, a pessoa de Kevorkian, sua filosofia e trajeto, mas passando longe de ser um filme em defesa dele, que celebre seus atos.
A beleza do cinema está nas diversas faces que ele pode apresentar. “Você não Conhece Jack” mostra isso com maestria. Muito mais do que um filme biográfico, a forma que aborda a vida do “Dr. Morte” e a situação dos seus pacientes (ou como muitos dizem, vítimas), juntamente com a lei, faz com que seja um filme dramático, tocante, “pesado”, bonito, e acima de tudo, totalmente reflexivo.  “Jack” é um filme que mesmo que você não consiga classificar como bom, ruim ou ótimo, ou até mesmo se classificar como ruim, não conseguirá ficar inerte á ele.
O que não é preciso acrescentar, mas sendo impossível não fazê-lo, é sobre a atuação de Al Pacino, sendo realmente destaque mesmo diante de tudo o que o filme apresenta. Já se espera que Pacino sempre dê um show em seus trabalhos, mas ainda assim ele consegue mostrar que ainda está na ativa para surpreender.

domingo, 7 de julho de 2013

A falta das Videolocadoras



Pequeno texto com algumas reflexões...


Há muitas coisas bem comuns em vários bairros que você vá: Salões de beleza, mercadinhos, padarias, academias. Há pouco tempo uma coisa também bem comum eram as famosas videolocadoras.

Não é segredo para ninguém que elas estão se tornando quase artefatos históricos em cidades. O que era coisa de quase uma em cada bairro, se tornou coisa rara. Dependendo do tamanho da cidade, há pouquíssimas remanescentes.
Também não é segredo o motivo da morte rápida de quase todas elas. Com o avanço da pirataria, houve a disposição da grande massa, uma enxurrada de filmes a preço de banana. Mais barato e acessível (redundância?). Fazendo uma concorrência desleal ao mercado de filmes. Trazendo lançamentos a preços dez vezes menores do que o vendido em lojas. O negócio ficou ainda mais feio com a popularização definitiva da internet a partir dos anos 2000.  Agora, as pessoas têm, além de serviços como o Netflix (que lhe disponibiliza através de assinatura, um acervo ilimitado de filmes), um verdadeiro mundo de filmes de graça, à apenas “dois cliques”. Uma derrubada feia às videolocadoras, que não tinham como competir quando um fator tão crucial estava em jogo: dinheiro. Até porque, na internet se encontra o que nem em todas as locadoras era possível: Filmes de 50, 80 anos atrás, aquelas produções independentes mais obscuras (no bom sentido) que você lia sobre em alguma revista, mas parecia impossível de encontrar.
Toda essa disponibilidade foi a desgraça das videolocadoras, mas um prato cheio para muitas pessoas, principalmente para as “não tão ricas”. E hoje, elas ainda existem, assim como existem seus frequentadores, mas não em quantidade tão grande como antes.
É aí que começa a parte triste. 
Alugar um filme era quase um ritual. Não só para os que estavam nas locadoras todo final de semana, mas também para os que não alugavam com tanta freqüência, que geralmente fazia sessões com amigos. Era quase um ponto de encontro, onde se escolhia com amigos os filmes da sessão que ia acontecer logo. O hábito de baixar filmes se tornou uma coisa mais solitária. Faz o download, põe no Pen Drive e assiste. Mas mesmo que você faça o download e assista com amigos, não se compara ao ritual da videolocadora.
Digamos que não desfrutei muito. Vi a morte delas (que ainda não teve fim) começar no inicio da adolescência. Quando vi a primeira locadora da região ( bairros vizinhos) ser fechada, tive um susto. E quase chorei quando A locadora da minha infância foi fechada. Essa era especial. Era pequena, mas tinha o maior acervo de filmes da região. Filmes antigos, clássicos obscuros do cinema trash (que na época eu nem sabia o que era cinema trash), séries das quais eu nunca tinha ouvido falar. Essa era uma espécie de mundo paralelo (exagero), eu me perdia nela e tinha esperanças de ficar amiga de quem trabalhasse lá na triste ilusão que ia conseguir pegar filmes de graça. Foi meu sonho de infância, enquanto não me formasse, trabalhar em uma videolocadora, assim poderia assistir todos os filmes do mundo. 
Infelizmente eu não era uma cliente assídua, alugava filmes pouquíssimas vezes (nem preciso dizer o motivo), mas fazia visitas com muita freqüência. Acho que os atendentes, depois de um tempo começaram até a estranhar, aquela menina que passava horas olhando os filmes e quase nunca locava. Ou talvez por eu ser criança, nem se importavam. Foi triste ver aquela locadora tão rica, tão cheia de raridades (e com tanta história na minha vida hehe), anunciar seu fechamento com as vendas dos filmes a preços tão baixos. Vi as locadoras de onde morava e tinha morado, serem fechadas uma a uma, poucas sobreviveram.


Hoje se faz downloads de filmes em Full HD, filmes raros e desconhecidos, séries e etc. Você pode passar horas pesquisando na internet, entrar em sites que tem acervos ótimos e que parecem infindáveis. Há programas que reproduzem os filmes com menus, tudo idêntico ao que vem no vídeo. Tudo isso quase de graça, mas que não se compara á experiência de “caçar” os filmes nas prateleiras das locadoras, levar pra casa e até mesmo conversar sobre cinema com os atendentes. Assim como assistir um filme em casa, deitado, e com um banquete ao redor, nunca vai se comparar a ver no cinema. Todo mundo sabe disso, mas talvez, nem todos tenham percebido e sentido a falta que as videolocadoras fazem, e o que isso representa. Mas o que isso representa fica pra outro post.


sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Máquina do Tempo



Histórias sobre viagens no tempo, contos sobre a famosa “Máquina do Tempo” estão entre os quais ouvimos falar desde que “nos entendemos por gente”. Ouvimos, lemos e assistimos essas histórias em livros, filmes, desenhos, seriados, que vão desde clássicos do cinema como “De Volta Para o Futuro” á histórias mais “bestas” como nos gibis da Turma da Mônica.



Mas em 1895 foi publicada a famosa e definitiva obra “A Máquina do Tempo”, do aclamado escritor H.G Wells. Esse seja talvez o livro de maior influência do autor, não só pelos motivos óbvios de abordar um tema que talvez sempre tenha existido nos sonhos da humanidade, mas pelo grande simbolismo e poesia presentes no livro.

A História, se passando em meados do século 19 (época em que o livro foi escrito), nos mostra um personagem apresentado apenas como “o viajante do tempo”, numa jogada de mestre de Wells, sem nomear  o protagonista, representando cada pessoa que sonha com a máquina. 
Ele desenvolve uma máquina capaz de viajar pelo tempo,  desafiando a comunidade científica da época, sendo visto como um lunático. Acompanhamos a jornada do nosso viajante do tempo até o ano 802.701, onde Wells mostra sua visão pessimista sobre a humanidade. Em vez de encontrar um mundo no extremo do desenvolvimento, nosso viajante encontra um mundo bem diferente, um mundo bem natural com uma humanidade visualmente e mentalmente inferior. O mundo na verdade está dividido em duas “raças”: Os Elóis, seres de aparência bela, semelhantes aos humanos, mas que vivem em estado quase animalesco, intelectualmente inferior. E os Morlock, seres que vivem no subsolo (em estado ainda mais animalesco) e que dominam os Elóis, dos quais também se alimentam. 
Temos uma gama de pensamentos do viajante em relação aos rumos que o mundo tomou. Talvez a humanidade tivesse chegado ao ápice do desenvolvimento social e científico até que “estacionou” e começou a declinar. Assim como as reflexões de como a humanidade se dividiu em duas raças, em que uma passou a dominar outra.

A Máquina do Tempo é um ótimo livro, não só na história, como na narrativa que lhe prende. Há tantas coisas, tantos fatores sociais e políticos  a se analisar nesse livro que dá pra entender por que é uma história tão famosa, e por que foi o ponto de partida para tantas obras do gênero.
 

Em 1960 foi lançada uma adaptação para o cinema, dirigida por George Pal.


No filme, o viajante, por motivos óbvios, tem um nome: George Wells, numa direta homenagem ao seu criador. O filme, na história em si (mesmo com coisas diferentes, que me decepcionou), é fiel ao livro e merece o título de clássico, mas é vítima da maldição das adaptações cinematográficas de livros. Quando um filme é adaptado de um livro a exigência é grande e a concorrência desleal. Por mais fiel que fique o filme, sempre vai estar á sombra da obra original. Eu como fã de cinema e livros tenho que admitir que um filme quase nunca vai conseguir passar o que o livro passa. Nos livros temos conhecimento de todos os pensamentos e sentimentos do personagem, é aí que o filme de George Pal sai perdendo. O maior fascínio que o livro de Wells desperta é por todas as questões que ele levanta, e por todo o “contato” que temos com o protagonista, no filme isso não acontece.

Morlocks


É até um pouco de falta de noção esperar uma adaptação do livro “A Máquina do Tempo” com todas as particularidades do mesmo. Mas com todas as coisas que ficaram cortadas, no filme a história perde o teor filosófico e passa a ser apenas um filme “visual”.


Mas isso não é o suficiente pra desprezar um filme tão louvável.  A atuação de Rod Taylor como o viajante do tempo ficou muito boa, “incorporou” o viajante que eu tinha na cabeça quando li. As cenas iniciais são praticamente idênticas ao descrito no livro. Os efeitos são belíssimos, embora para a geração atual (da qual eu faço parte) eles pareçam bastante grotescos. Mesmo assim, duvido que você não fique emocionado com a primeira passagem de tempo da máquina. E o mais importante: A máquina. Merecedora de fazer parte da coleção de qualquer admirador da história.


Lembrando que  é um filme que deve ser visto levando em conta a época em que foi feito. Como já citei, os efeitos são belíssimos, mas sou bem suspeita porque tenho certo fascínio pelos efeitos mais rudimentares. Infelizmente, “A Máquina do tempo” de 1960 é um filme que há tempos, está sendo esquecido pelos cinéfilos. Uma pena, porque além de ser bom, é um filme histórico cinematograficamente, e que homenageia uma das obras mais brilhantes da literatura.


O livro de H.G Wells e o filme de George Pal me lembram algo muito bom, e ao mesmo tempo outra grande vantagem dos livros: O tempo não os esquece, ou pelo menos, demora muito mais para esquecê-los. Enquanto O filme de 1960 está sendo esquecido e se tornou “atrasado” (o que é uma pena), o livro de 1895 continua muito atual. E se no futuro se tornar esquecido, talvez já tenhamos realizado o sonho das viagens no tempo...


domingo, 21 de abril de 2013

Oldboy: Uma obra-prima que não merece remake


Queria saber que recente onda é essa de remakes no cinema. Sério que a criatividade está tão em baixa? Inúmeros remakes estão por vir e já vieram, temos aí como exemplo a estreia de Evil Dead (que tristemente ainda não estreou aqui em JP) e a muito próxima estréia do novo “O Massacre da Serra Elétrica”, que é exemplo de extrema falta de necessidade.  Sério que alguém precisa de mais um? E um de “It – Uma Obra Prima do Medo" está por vir, desse eu estou com medo... muito medo! Mas essa semana fiquei sabendo que um remake de Oldboy, com direção de Spike Lee  já estava confirmado e tinha saído até um pôster. Eu realmente sou muito desatualizada das notícias cinematográficas. Sou meio anti-remakes, mas tenho que admitir que até gostei de alguns, como o ótimo “Halloween – O início”, mas fiquei com bastante medo quando vi a notícia porque quem viu o filme sabe que Oldboy é perigoso para se fazer um remake, o filme é uma obra-prima, e seria um sacrilégio estragá-lo. Pelo menos a notícia foi um impulso para escrever aqui sobre ele.



Em Oldboy temos como foco o personagem Oh Dae-Su (Min-sik Choi), um homem que é seqüestrado e preso dentro de um quarto sem saber o motivo, onde  passa incríveis 15 anos sozinho no lugar.  Ele nunca vê seus seqüestradores e recebe como comida apenas bolinhos fritos através de uma pequena passagem na porta, onde tem como companhia apenas a TV e um ser pintado num quadro. Já podemos imaginar o que acontece com uma pessoa que passa anos presa sozinha num lugar (e mais na companhia de uma TV!), ele obviamente tenta fugir e passa a ter alucinações, como se imaginar coberto por formigas, até mesmo porque respirava um gás todas as noites, que é um dos pontos importantes do filme: A hipnose.  

"Será que se eu soubesse que seriam 15 anos, teria sido mais fácil?"


Quinze anos depois Oh Dae-Su é solto sem motivos aparentes e sai ao mundo sedento por vingança. Conhece uma moça, Mido (Hye-jeong Kang), e passa a ter um relacionamento além da amizade com ela. A partir daí temos o desenrolar do filme na Busca de Oh Dae-su ao seu passado.

Oh Dae-Su e seu algoz lhe lembrando de seu passado
No filme não temos o protagonista como uma pessoa "boazinha", não chegamos a ver um homem de virtudes e que não mereça o que aconteceu a ele (sempre falamos “ah, ele não merecia isso” geralmente quando a pessoa é “boazinha”).  Oh Dae-Su é a imagem de uma pessoa como qualquer outra, não sabemos o que de terrível ou de maravilhoso ele havia feito no passado, mas pelos próprios relatos dele sabemos que não tinha sido uma vida de “bondade”, e mesmo sem essas descrições, no personagem não há muita coisa que nos cause afeição ou simpatia. Mas de alguma forma entramos com ele no infortúnio que lhe recaiu e queremos saber o que de tão ruim ele tinha feito ou que motivos alguma pessoa tão ruim teria para ter feito tal coisa com ele. 

Oldboy lhe prende não apenas por lhe deixar curioso com a história, mas também por ter uma beleza singular e de certa forma irreal. Temos cenas belas, assim como perturbadoras. É um filme violento, que ao contrário de alguns, consegue casar perfeitamente a violência com a mensagem. É uma verdadeira enxurrada de imagens impactantes muitas vezes por sua simplicidade. Uma das minhas preferidas ( é a mais famosa) e que merece muito destaque é uma em que Oh Dae-Su luta com uns 40 (?) homens num corredor. É só mais uma cena de luta coreografada. Não! É uma luta gravada em side-scrolling, o que nos faz lembrar automaticamente de inúmeros games (principalmente os de luta, lógico).




Oldboy se revela com um dos finais mais chocantes e arrebatadores do cinema, que lhe faz ficar ainda por um tempo pensando (se você é dos que ficam refletindo sobre o filme durante os créditos). 
O final nos traz uma perspectiva do filme da vida de cada um de nós. Quais os efeitos que a solidão e o confinamento podem ter sobre nós humanos? Ela pode nos transformar em monstros como o próprio protagonista descreveu? E aliada à hipnose? Pode ter efeitos devastadores?


Um filme que merece ser visto por todos. Só espero que esse remake não venha para "estragar tudo"...