Sou uma pessoa interessada
nas causas feministas. Entretanto, nunca fiz questão de ficar
dizendo isso por aí. Por quê? Por que simplesmente não baseio minha identidade
em rótulos ou títulos específicos. Não tenho "orgulho de ser feminista", como
muitas mulheres afirmam, tenho orgulho de ser quem eu sou, de pensar como
penso. Uma vez que um amigo
veio perguntar minha opinião sobre a Marcha das Vadias falando “Jéssica, você
que é meio feminista...”, até achei estranho, porque nunca me auto-intitulei como tal.
Quando eu era criança, achava estranho o que falavam sobre o
feminismo, pelo que eu ouvia eram apenas mulheres revoltadas demais, contra o casamento,
contra qualquer tipo de vaidade, que não se arrumavam, tudo o que eu ouvia as
pessoas falarem e pelo que eu via na TV.
Mas sempre questionei as diferenças sociais entre homens e mulheres, os
estereótipos de gênero, e tantas coisas que achava injusto. Depois que comecei
a conhecer certas coisas e ver um pouquinho mais sobre o feminismo, “descobri”
que as feministas não eram o inimigo público número um da sociedade.
Eu não achava legal a ideia desse movimento ter um nome,
afinal, o pensamento de igualdade pregado pelas feministas deveria ser um
pensamento natural de todo ser humano não? Não vou mentir, pesquisava muito
sobre as lutas das mulheres (e sentia orgulho), mas não
identificava essas lutas como lutas de mulheres feministas, mas lutas de mulheres
corajosas. Hoje em dia, acho viável uma denominação, mas acredito que a mulher, independente de ser feminista ou não, quer ter os mesmos direitos que os homens e não sofrer com o machismo.
Hoje, o feminismo que estava sendo considerado morto por
muitas pessoas ganhou mais popularidade, graças ao florescimento de protestos, e
principalmente à popularização da internet.
Há muitos blogs, sites e grupos feministas espalhados pela web, disseminando
e discutindo suas idéias. Idéias de um movimento que não é mais o mesmo que era
no início, expandiu seus discursos assumindo várias vertentes e se tornando um
movimento plural. Mas o negócio está desandando. Sinceramente, muitas
vezes me dá dores de cabeça ler comentários em certos grupos feministas. Tanto que agora visito muito pouco os blogs e tampouco participo de grupos. Acho um tanto quanto incoerente um
grupo que prega o respeito, a igualdade e o repúdio ao preconceito se comportar de forma tão hipócrita. Um grande problema de pessoas em geral é não entender
que se pode discordar até mesmo de argumentos usados para defender o que
pensamos. Como vejo isso em grupos feministas! Soando tantas vezes até
ditatorial. Eu mesma já tive alguns comentários bloqueados (e olhe que posso contar os poucos comentários que já fiz em páginas pela web!) e constantemente vejo muito desrespeito entre os mesmos. Além
da disputa que agora está existindo pra definir quem é mais feminista (alguém
pode me dizer onde consigo a
carteirinha?). Na boa, isso me lembra aqueles menininhos “metalêrus from hell"
de 13 anos que passam o dia inteiro de mimimi na internet falando sobre o "santíssimo"
rock, xingando o funk e nomeando outros de poser a torto e a direito.
A discussão
sobre liberdade sexual e direito ao próprio corpo está se tornando um discurso
infindável de bordões prontos e clichês. Tenho a impressão que o famoso “We Can do It” deu lugar ao “A porra da buceta
é minha e faço o que quiser”. Perdi a conta das vezes que li frases parecidas
no mesmo dia. A liberdade sexual da mulher é um dos pontos mais discutidos no
feminismo, digno! Cada mulher deve fazer
o que quiser com seu corpo, usar a roupa que quiser, e se relacionar com quem quiser, e
sei que não precisa fazer nada de “errado” pra ser chamada de puta, vadia (ponha
aqui qualquer outro xingamento do tipo). Mas já vi (e vejo) muito na internet mulheres enchendo o peito pra falar que tem
relacionamentos casuais com muitos
homens, porque é livre, usa a roupa que quiser porque é dona do corpo, e seguem
repetindo os mesmos bordões. E vejo mulheres se comportando com desprezo
em relação a outras que não dão pulos de alegria sobre tais discursos. Isso não me soa como protesto nem rompimento dos padrões, soa apenas um egocentrismo pífio e idiota..
Vi bem isso quando li
ontem uma publicação no site da revista Superinteressante, falando sobre o "funk feminista". Me lembrando da discussão sobre Valesca Popozuda como feminista e modelo de
liberdade feminina, defendida por muitas feministas. O que ela, as outras
popozudas da gaiola e outras cantoras e dançarinas do funk cantam ou dançam
sinceramente não me importa, muito menos se ela é feminista ou não, porque não vai influir em nada na minha vida. Mas
me soa bem hipócrita se referir a uma mulher que se diz ( e dá a entender que
pode ser chamada) puta, piranha e cachorra como modelo de mulher bem resolvida
e livre. Até por que, a mulher que
canta “Eu dô pra quem quiser que a porra da buceta é minha” é a mesma que canta que “mulher de
verdade quer um otário pra bancar” e que também canta xingamentos direcionados á outras mulheres...
E sinceramente, não vejo
nada de libertário nisso.
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