Ela tinha os olhos castanhos, mas não um castanho qualquer. Os dela brilhavam muito. O brilho às vezes ofuscava minha visão e tinha um efeito alucinógeno me fazendo viajar para dimensões onde sempre dispunha de um banquete visual, vislumbrando - se tudo de mais belo que podia existir. O cheiro dos seus cabelos encaracolados também tinham um efeito parecido. Embalado por ele eu podia mergulhar numa profusão de odores, que adormecia todo meu corpo deixando - o leve.
Tudo, tudo nela tinha um ar de doçura e sutileza. Junto da minha pequena me sentia o mais feliz dos seres viventes. Todo o seu ser transmitia uma paz, uma calma. Seu andar era leve, quase flutuante. Quando caminhava por entre os recantos do meu apartamento, quase não se ouvia o som dos seus passos, apenas um leve sussurro da madeira que parecia dizer que sentia – se satisfeita por ser pisada por aquela bailarina.
A minha doce fada apareceu na minha vida como um milagre, um mistério. Chegou assim de repente como quem não quer nada e quando percebi havia tomado meu coração.
Pena que da mesma forma que veio a bailarina se foi sem dizer pra onde, nem por que.
Hoje passo os dias que me restam à procura desse anjo perdido, me questionando por que razão ela chegou à minha casa, cruzou meu caminho, mudou meu modo de ver a vida, me fez sentir seguro e depois disso tudo partiu deixando meu coração dilacerado e levando consigo todo o meu chão. Meu mundo desabou e hoje não sou ninguém. Hoje tento me livrar do álcool. Minha mãe me fez procurar um AA porque pra ela foi o fim eu ter perdido o emprego, o apartamento, o carro e ter voltado a morar com meus pais por culpa de uma mulher. Nada tinha mais sentido pra mim. Minha vida perdeu o sal. Não tinha mais amigos, ninguém confiava em mim, maltrapilho, andava na rua percebendo que as pessoas ao redor sentiam – se desconfortáveis com a minha presença. Um bêbado, sujo e fedorento cujo único crime que havia cometido fora amar demais uma doce ilusão.
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